#150

Eu sempre tive mais facilidade de lidar com as minorias nos ambientes que frequento. Acho que ser diferente das pessoas leva a isso. Sempre detestei a patricinha, o bonitinho e os populares, preferia andar com os maconheiros, os "losers", roqueiros, revoltados, anti-sociais, gays e por aí vai. Acredito que sou o que sou hoje por isso, por detestar conversar com alguém sobre algo medíocre ou sobre a bunda da menina que passou.

O evento Queer Punk Queer Funk pra mim foi uma espécie de materialização dos meus pensamentos mais recentes. Ultimamente tenho lembrado de cada situação sexual (ou não) que passei e procurado referências ou determinantes da minha identidade sexual atual. Ao contrário do que possa parecer não sou gay. Muita gente pensa isso e não me sinto nenhum pouco envergonhado [até acho legal, as pessoas se sentem à vontade pra falar abertamente comigo]. E ao contrário do que você pensou depois que eu disse que não sou gay, eu não sou hétero. Se tem algo que me causa um pouco de nojo é me imaginar vivendo de acordo com esse tipo de convenção social por ser mais fácil e aceito.

Não, eu não estou em dúvida sobre o que eu gosto. As pessoas tem uma mania de achar que se você não é nem uma coisa nem outra é porque ainda não se decidiu. Não sou bissexual, nem nenhum outro nome que você já ouviu. Mas nem sempre isso foi claro pra mim, e a teoria queer veio me dizer que eu posso ser o que eu quiser... que posso ser o árvoressexual que sempre sonhei, sem precisar explicar isso pra ninguém [piadinha sem graça, mas a coisa funciona mais ou menos assim].

Voltando a minha idéia inicial do post, vou fazer um pequeno review do evento, minhas impressões e desinteressantes opiniões:

No 1° dia, a abertura com uma breve conversa e o shows, bebi um pouco e me arrependo de não ter visto tudo. Na verdade, o meu interesse principal era o show do Solange, tô Aberta! que foi "abalativo" [vê na foto!]. Eu e a galera que foi comigo enchemos o saco: subimos no palco, dançámos com eles, passamos a mão, etc. Esquecemos todo o pudor do lado de fora da CasaMuv, e acredito eu, esse deve ser um dos objetivos da banda, despertar essa libido, desejos reprimidos, fazer ver as possibilidades [tanto que o Pedro falou comigo depois que sentiu sensações bem diferente dos outros shows que já fizeram. O ambiente fechado, mais intimista, contribuiu muito pra isso].

A volta pra casa foi difícil, nervosa. Eu tinha que chegar em casa ainda no mesmo dia pra poder ir nos outros... acho que sou o único cara de 19 anos que tem que ficar preocupado com esse tipo de coisa...

O 2° dia, exibição do filme de Bruce Labruce, O Exército das Frutas, e uma mesa redonda sobre teoria queer. Sobre o filme, é de ficar de boca aberta. É um filme difícil de digerir, até agora me pego pensando nas cenas, nas falas, na idéia. Vou tentar pegar esse e outros filmes dele pra tentar conhecer mais sobre o diretor.

Após a programação desse dia, todos saíram pra colar uns lambes por ali: eu e Ayran iniciando um novo vício... ahuHAUhu [vê na foto]

Hoje, 3° e último dia, a oficina com cara de terapia. Falei tanta coisa que nem lembrava mais que tinha acontecido, dos tempos de colégio, coisas sobre sexo que absorvi quando criança. Sem falar que, claro que eu já sabia, mas hoje me dei conta de verdade que as pessoas mais próximas, que deviam dar exemplo, saber lidar com crianças, são os principais opressores e traumatizadores, que criam adultos com sexualidade pouco saudável.

Lembrei de duas histórias, uma contei lá e outra não:quando eu era 7° série tive um professor de química que disse pra turma inteira que o homem que não ficava de pau duro no primeiro beijo não era homem (hétero). Eu ainda não tinha beijado ninguém e, como toda criança, guardei isso na memória. No dia do meu primeiro beijo, aquele nervosismo, e meu pau não estava duro. Fiquei traumatizado! Hoje a história é até engraçada, mas imagine isso na cabeça de uma criança?
A outra história que lembrei e não contei, foi de quando um desse amigos de colégio que gostam de sacanear os outros, ao me cumprimentar tentou levar minha mão em direção ao pau dele. Era brincadeira de menino, do tipo "pega aqui no meu pau" sem nenhuma intenção sexual mesmo. Tirei a mão rapidamente, briguei com ele e, achando aquilo muito estranho, passei a evitar o cara. Um dia desse reencontrei ele num show... foi esquisito... deu vontade de relembrá-lo só pra deixar ele sem graça [sou mal!].

Ainda houve a exibição de um longa em animação, o Queer Duck, que nem vi todo porque dormi. Droga! Não dormi muito bem de noite e estava bem cansado hoje...



Quem deixou de ir perdeu. Claro que tinha gente lá que nem sei porque foi, mas tornar pública minha vida íntima não a torna mais resolvida, né?!


[fotos do evento]