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Eu tinha que escrever a merda do relatório sobre as visitas à comunidade quilombola, o projeto de pesquisa e extensão que participo, mas não sei bem o que aconteceu, talvez os três comprimidos de remédio pra gripe-resfriado-febre-dores musculares-cefaleía-levanta defunto que tomei pra acelerar o processo de cura do que seja lá que eu tenha [mas que com absoluta certeza esse remédio resolve] tenha inibido o meu processo criativo.

Ou talvez seja aquela comum falta de revolta, de vontade, paixão, de ódio, de qualquer coisa que mova o mundo, que não existe nas pessoas (maioria) e que desaparece em mim nesta noite. Eu não estou extremamente puto com nada, nem deprimido. Aí me pergunto que merda eu estou agora, porque pra mim não faz sentido. Até tenho motivos pra estar pra lá de marrakesh, mas a justificativa, a causa, é broxante. Não uma específica, mas "a" "coisa" "motivo", "o" "motivo" pra tudo, tem que ter?

A razão do meu relatório é dinheiro. E é isso que me preocupa. Não o ter dinheiro, mas não escrever sabendo que disso depende o ganhar dinheiro. Há também umas razões acadêmicas, sobre produção de conhecimento etc etc que é de domínio coletivo e vocês conhecem, e nesse caso não é voluntário, então esquece. Sabe, já desisti de escrever o relatório. Ficarei aqui, com minha coriza enchendo o saco, escrevendo sobre qualquer coisa que eu nem sei, ouvindo Nina Simone [li um texto foda sobre ela hoje, da Clara Averbuck]. Entregarei sexta, quem perde sou eu mesmo...

Vou dormir. Boa noite.